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Pesquisa pioneira revela efeito do canabidiol em cérebros de camundongos

Biólogo João Paulo Machado, autor do estudo: análise inédita do efeito do canabidiol em cérebros de camundongos

Pesquisa pioneira revela efeito do canabidiol em cérebros de camundongos

Em um estudo pioneiro no mundo sobre os efeitos moleculares do canabidiol (CBD) em cérebros de camundongos, o biólogo João Paulo Machado detectou alterações na função de cerca de 3 mil genes em neurônios do hipocampo após a administração da substância.

A descoberta, fruto de uma pesquisa em curso no Laboratório de Eletrofisiologia, Neurobiologia e Comportamento (Lenc) do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, foi publicada no Acta Neuropsychiatrica, periódico científico editado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

O trabalho iniciou-se em 2019, com o ingresso de Machado no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular e Morfofuncional do IB. Hoje doutorando, o pesquisador dedica-se à análise da expressão gênica, processo que se dá quando genes se tornam ativos, no interior da célula, para transmitir mensagens ordenando a produção de alguma substância, normalmente necessária para a realização de uma função celular específica – como gerar mais ou menos energia. Esse fluxo de informações contém detalhes sobre o funcionamento da célula, indicando a ocorrência de variações comportamentais. A investigação de Machado, inserida no campo das ciências ômicas e denominado transcriptômica, expande a compreensão sobre as funções em organismos vivos.

A eficácia da substância encontrada na Cannabis sativa para tratar certos tipos de epilepsia serviu de inspiração para Machado delinear seu projeto inicial de mestrado, embasado no reconhecimento científico da capacidade do canabidiol em reduzir os sintomas e a ocorrência de crises convulsivas em alguns casos. A constatação empírica da melhora de indivíduos tratados com CBD, diz o pesquisador, sugeria uma atuação do composto sobre a expressão gênica dos neurônios.

Partindo dessa hipótese, o biólogo procurou o professor do IB André Vieira, coordenador do Lenc, que já trabalhava com análise transcriptômica e com a enfermidade. “Embora se saiba que o canabidiol funciona para tratar alguns tipos de epilepsia, faltam informações sobre o que exatamente [a substância] faz no sistema nervoso. É preciso ver por que causa certos efeitos e entender seu mecanismo de atuação”, ressalta o docente, que se tornou orientador de Machado. “O trabalho do João é o primeiro do mundo com o CDB a analisar alterações no transcriptoma do cérebro de camundongos induzidas por essa molécula. Os anteriores, com animais, concentraram-se no controle das crises convulsivas e na observação comportamental.”

Ao constatar que não havia qualquer registro na literatura científica sobre a ação molecular do canabidiol em cérebros saudáveis, Machado e Vieira concluíram que era preciso suprir primeiro essa lacuna. “No organismo, o CBD interage principalmente com o sistema endocanabinoide, que é responsável por modular [alterar] todos os outros. Devido a essa capacidade de se comunicar com outras moléculas, esperávamos que fosse modular a expressão gênica. Só não esperávamos que a resposta seria tão significativa. Foi uma surpresa”, afirma o doutorando.

Mais informações: https://www.jornal.unicamp.br/edicao/707/efeito-do-canabidiol-em-cerebros-de-camundongos/#gsc.tab=0

Foto: Antoninho Perri

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