Native Dancer, ícone do jazz-pão-de-queijo, completa 50 anos!
Uma ótima forma de iniciar 2025 é celebrando os 50 anos de lançamento do disco Native Dancer, em 18 de janeiro de 1975, um marco na fusão do jazz do saxofonista americano Wayne Shorter com o Clube da Esquina de Milton Nascimento. Com composições de Milton e Shorter, o disco ainda teve participações de Herbie Hancock (piano e teclados), Dave McDaniel (baixo elétrico), Robertinho Silva (bateria e percussão), Wagner Tiso (teclados), Airto Moreira (percussão), entre outros músicos em participações especiais, cujo som resultou em uma obra que influenciou artistas como Esperanza Spalding e Maurice White, do Earth, Wind & Fire.
Gravado em setembro de 1974 no estúdio The Village Recorder, em Los Angeles, Native Dancer destaca-se por mesclar elementos de jazz, rock e funk com ritmos brasileiros, criando uma sonoridade incrível. O álbum apresenta composições emblemáticas, como “Ponta de Areia” e “Milagre dos Peixes”, de Nascimento, e “Ana Maria”, de Shorter.
E tenho profunda relação emocional com esse disco, especialmente por causa das músicas “Ponta de Areia”, “Ana Maria”, “Milagre dos Peixes” e “Joanna’s Theme”. Quando comecei a escrever sobre música em 2009, na Agência Estado, cada nova matéria era uma descoberta. E, muitas vezes, eu sonhava com algum músico e partia buscar uma entrevista, foi assim, por exemplo, que entrevistei Altamiro Carrilho.
Certa noite, sonhei que estava em um casarão antigo, cheio de crianças e adolescentes estudando música. Andei pela casa e, nos jardins, encontrei Milton Nascimento tocando violão. Contei o meu sonho ao querido Pedro Fávaro Jr, que me incentivou a entrevistar Bituca. Achei o telefone da então assessora de imprensa, uma moça incrível, com a qual troco mensagens algumas vezes até hoje. E até contei a ela o meu sonho, que maluco!
Uma vez por mês eu ligava para ela, conversava, sondava o terreno. Até que, em 2010, ela avisou que Bituca estava para lançar o disco “…E a gente sonhando”, com muitos músicos jovens de Minas Gerais, incluindo da cidade de Três Pontas, onde Milton passou sua infância. Não poderia acreditar que, finalmente, após quase seis meses ou mais, eu iria entrevistar, mesmo que por telefone, o grande Bituca.
A entrevista foi realizada no estúdio de rádio que a AE mantinha à época, mas que só era usada para boletins econômicos no fim do dia. A entrevista estava marcada para a manhã, não teria ninguém lá praticamente, então decidi levar o sax. Ao final da entrevista, toquei para o Milton um trechinho de Ponta de Areia, foi uma emoção muito grande. Há oito anos, coloquei a entrevista no meu canal no YouTube.
Em 2023, minha querida amiga Ana Maria, minha ex-professora de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), me convidou para tocar na abertura da exposição Céu e Terra, de Ana Tamanini e Vitória Basaia, na Galeria Brasiliana, no dia 2 de março. E, naquele dia, Wayne Shorter fez sua passagem, aos 89 anos. Segundo o G1, Bituca lamentou profundamente a perda do amigo. “Hoje é um dos dias mais difíceis da minha vida. Dia de me despedir de parte de tudo o que eu sou.”
Durante a apresentação na galeria, toquei “Ponta de Areia” a plenos pulmões, foi uma das apresentações mais queridas que fiz, ganhando a amizade, mesmo que virtual, da querida Vitória, que faleceu em maio do ano passado. E o legado de Native Dancer permanece vivo, evidenciando a amplitude da influência que uma música pode proporcionar ao mundo. Cinco décadas após seu lançamento, o álbum continua a inspirar músicos e ouvintes ao redor do mundo, reafirmando a genialidade de Wayne Shorter e Milton Nascimento. E, para homenagear esse disco, e minha amiga Ana Maria, gravei a música de mesmo nome tendo como fundo a arte da Nasa dos Pilares da Criação, para iniciar o ano com gratidão, inspiração e estímulo para criar novas formas de estar no mundo.
Que 2025 seja pleno de Pilares da Criação!—
Roger Marza
Jornalista e Músico
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